A compostagem já existe há tanto tempo que é normal que durante estes anos todos se tenham criado mitos sobre ela. Estranho seria se não existissem! Mas infelizmente são estes mitos que impedem algumas pessoas de começar a compostar (provavelmente tu), por isso vamos desmistificar os 10 mitos mais comuns!
Ao contrário do que muitas pessoas acham, manter um compostor doméstico é simples e não requer muita dedicação, tempo ou esforço.
Vamos então desvendar esses mitos. Ready?
1. Compostar é demasiado complicado
É complicado para os microrganismos ou minhocas que o fazem! Nós, humanos, não temos de fazer muito! Dependendo do método de compostagem, o nível de “dificuldade” (entre aspas porque não se pode, na verdade, chamar dificuldade) pode variar. Podemos concordar que controlar a humidade e temperatura da matéria orgânica ou aprender o que as minhocas gostam podem não ser as tarefas mais fáceis, mas são fáceis na mesma, acredita 🙂 E ainda por cima não precisas de colocar os resíduos todos os dias no compostor, desde que os conserves bem para não apodrecerem. Então que trabalho é que vais ter no dia-a-dia?
- Comum a todos os métodos: Cortar os resíduos mais pequenos se estiverem em pedaços muito grandes;
- Compostagem Bokashi: 1º etapa) colocar os resíduos dentro do compostor, amassá-los, colocar farelo bokashi por cima de cada camada de resíduos e fechar bem com a tampa. Retirar o chá Bokashi pela torneirinha 2 a 3 vezes por semana. Quando encheres o compostor, deixa-o em repouso 2 semanas; 2º etapa) misturar os resíduos fermentados com a terra e deixar em repouso mais 2 semanas. Depois disto tens o adubo pronto!
- Vermicompostagem: Na primeira utilização, tens de adicionar o substrato de minhocas ao compostor. No dia-a-dia colocar os resíduos no compostor e misturar com matéria seca (ex: folhas secas e serragem de madeira); ir controlando de vez em quando a humidade da matéria que está dentro do compostor (fazer “teste da esponja”).
- Termofílica: Ir colocando os resíduos orgânicos no compostor (ou pilha de compostagem) e misturar com matéria seca (para controlo da humidade). Mexer a pilha com uma pá, garfo ou arejador de composto pelo menos 1 vez por semana. Controlar a temperatura da pilha com um termómetro próprio.
Pareceu-te complicado? Isto é o que um ninja da compostagem faz num dia normal (continua a ler para perceberes o que é um dia “não normal”). Se demorar mais de 3 minutos por dia, se calhar é porque estás a compostar orgânicos que até poderias reaproveitar para “refeições sem desperdício” 😛 Pensa nisso com carinho!
2. Demora muito tempo a obter o composto
A duração do processo de compostagem depende de vários fatores, nomeadamente do método utilizado, quantidade de resíduos, tamanho dos resíduos, utilização ou não de aceleradores de compostagem, temperatura e humidade, arejamento (no caso da termofílica), tipo de resíduos colocados, entre outros.
Podemos dizer-te que de forma geral, ceteris paribus como dizia a professora, a compostagem termofílica é a que demora mais tempo (uma média de 90 a 120 dias). A vermicompostagem demora menos um pouco (uma média de 60 a 90 dias). A compostagem Bokashi é a rainha: demora apenas, em média, de 45 a 60 dias (incluindo o tempo que demoras a encher o compostor!).
A vantagem é que, se quiseres fazer compostagem a nível doméstico, o adubo que vais obter de qualquer um dos métodos provavelmente vai dar-te para várias utilizações, principalmente se viveres num apartamento ou tiveres um pequeno jardim. Portanto, se pensares bem, ainda bem que o processo não é mais rápido, se não terias de começar a acumular stock de composto!
Mas se tiveres interesse em obter o composto mais rapidamente, há formas de o fazer!
Na verdade, a velocidade da compostagem depende muito da forma como “manténs o ecossistema”.
A compostagem pode ser tão simples como adicionar os resíduos ao compostor e acrescentar farelo ou matéria seca (dependendo do método), e isso é totalmente verdade! Mas, com uma pitada extra de amor e empenho, consegues melhorar as condições da compostagem e torná-la mais eficiente (controlando os fatores que mencionamos no 1º parágrafo desta secção). A compostagem é alimentada pela atividade microbiana, por isso quanto mais microrganismos o sistema suportar, mais rápido ele funciona.
Para além disso, no caso da compostagem termofílica (de jardim), podes usar aceleradores de compostagem ou adicionar minhocas californianas para acelerar o processo! Caso tenhas interesse em saber mais sobre os aceleradores, lê aqui o nosso artigo.
3. A compostagem cheira mal
A compostagem não cheira mal, a não ser que estejas a fazer algo de errado. Se o “sistema” estiver em equilíbrio, não vais ter qualquer problema. No caso da compostagem Bokashi, podes sentir apenas um leve cheiro avinagrado devido à fermentação, quando abres o compostor para colocar os resíduos. Mas as pessoas não consideram esse cheiro desagradável. No caso da vermicompostagem (compostagem com minhocas) ou termofílica (de jardim), o compostor costuma ter um cheiro agradável de natureza, que lembra o cheiro da terra molhada depois de chover. Inclusive, o vermicompostor e o compostor Bokashi podem (e devem) estar instalados no interior da casa, em qualquer compartimento.
Curiosidade: a Carolina da Mudatuga tem o compostor dela no quarto!
Estes compostores poderão também ser colocados na varanda, dependendo da temperatura exterior, e se garantires que não há contacto direto com o sol.
Dependendo do tipo de compostagem, há erros comuns que podem provocar mau odor. Esses erros podem estar relacionados com a falta de equilíbrio entre matéria seca e matéria húmida (resíduos), humidade, estado dos resíduos no momento em que os colocas no compostor, arejamento, entre outros fatores. Mas isso resolve-se muito facilmente. Aliás, acreditamos que depois de leres as nossas instruções sobre como utilizar o compostor, dificilmente vais ter problemas. No entanto, se isso acontecer, partilha connosco através do nosso instagram ou email (
4. A compostagem atrai moscas e bichos
Alguns métodos de compostagem podem atrair mosquinhas apenas se não cumprires alguns cuidados básicos. Mas são mesmo básicos! Não tens com que te preocupar.
Para começar, a compostagem Bokashi não atrai nada de nada porque o compostor é hermeticamente fechado. O que pode atrair são os resíduos orgânicos que ficam temporariamente fora do compostor, se não estiverem bem conservados, principalmente no verão. A melhor dica para prevenir que isso aconteça é guardares sempre os resíduos dentro de um pote com tampa. Ou então colocá-los mesmo no frigorífico. Isso resolve totalmente o problema. No entanto, no caso de tencionares colocar esses resíduos num vermicompostor e quiseres ser mesmo cuidadosa(o), recomendamos que laves melhor as cascas antes de as descascar para remover potenciais ovos que possam já estar na superfície dos alimentos. Principalmente se forem bananas! E, claro, nunca coloques resíduos podres na compostagem, independentemente do método.
No caso da vermicompostagem e da compostagem termofílica, é importante que cumpras as proporções entre matéria seca e matéria húmida (2 para 1) e que cubras sempre muito bem os resíduos com matéria seca. Se quiseres ir ainda mais longe, na compostagem termofílica podes também acrescentar materiais que permitam que a pilha fique mais arejada, como ramos, por exemplo. Isto não só vai ajudar a não atrair mosquinhas e pragas, como vai ajudar a que não tenhas maus odores.
Há quem pense também que a compostagem atrai bichos e ratos ? A Bokashi, pela razão que já referimos, não atrai qualquer tipo de bicho. A vermicompostagem também não, até porque normalmente é feita dentro de casa. Os ratos são atraídos pelo cheiro. O único método de compostagem que, em certas condições, poderia ser mais problemático é o da compostagem termofílica feita numa pilha de compostagem ao ar livre. Para evitar que isso aconteça, há quem defenda que não se deve colocar proteína animal (como carne ou gordura por exemplo) na pilha. No entanto, há também quem defenda o contrário e que diga, inclusive, que a proteína animal ajuda a subir a temperatura da pilha de composto, acelerando o processo de compostagem. Conclusão: no caso de estares interessada(o) em compostar este tipo de resíduos, podes tentar fazê-lo, mas aconselhamos-te a colocar uma rede suficientemente “apertada” à volta da pilha (para que os ratinhos não tenham forma de entrar) e a controlar de perto nos primeiros tempos. E não te esqueças sempre de tapar muito bem os resíduos com matéria seca! Como dissemos anteriormente, isto ajudará a que os bichinhos não sintam o cheiro deles!
Outra alternativa seria abortares missão e passares a fazer compostagem Bokashi.
Com a compostagem Bokashi, podes compostar carne, peixe, gordura, ossos pequenos e outras proteínas animais à vontadinha! No exceptions.
5. É preciso muito espaço para fazer compostagem
Esta é bem fácil de explicar. Se tens espaço para um caixote do lixo ou balde de limpeza, também tens espaço para um compostor Bokashi. Este é o tipo de compostagem que, sem sombra de dúvidas, ocupa menos espaço. Precisas literalmente de um cantinho com a largura de um balde pequeno. Aliás, deves usar sempre 2 compostores Bokashi, mas normalmente eles ficam empilhados um em cima do outro. Portanto, a não ser que vivas num cubículo (esperemos que não), tens sempre espaço para compostar!
6. É muito difícil perceber o que posso e não posso compostar
Há uma longa lista de alimentos que SUPOSTAMENTE não podem ser compostados. A verdade é que quase todos os alimentos podem ser compostados se forem tratados da forma correta! Ora vê:
- Cascas de frutas e vegetais: possível em qualquer método de compostagem.
- Proteína animal (carne, peixe, ovo, queijo): possível na compostagem Bokashi; com cuidado na termofílica (ver ponto 4); evitar compostar estes resíduos na vermicompostagem. Nota: no entanto, podes compostar proteína animal com qualquer método de compostagem (mesmo na vermicompostagem) desde que antes fermentes esses resíduos no compostor Bokashi.
- Cebola, citrinos e temperos fortes: possível na compostagem Bokashi; possível na termofílica; evitar colocar na vermicompostagem (a não ser que sejam fermentados antes), pois as minhocas tendem a rejeitar esses alimentos.
- Folhas (verdes ou castanhas), flores e restos de jardinagem: possível em qualquer método de compostagem.
- Líquidos (sopa, leite, iorgurte, líquido do feijão, sumos, etc): evitar colocar em qualquer um dos métodos de compostagem, pois destabiliza bastante a humidade da matéria orgânica e pode prejudicar o processo de compostagem.
Claro que tudo é relativo. Colocar 10 laranjas num vermicompostor é diferente de colocar 1 ou 2. Colocar um bocadinho de queijo é diferente de colocar um queijo inteiro! Cumprindo-se as boas práticas da compostagem e equilibrando as quantidades e variedade de resíduos, é possível compostar praticamente tudo.
7. Não posso compostar porque não tenho um jardim
Este deve ser o maior mito de todos! Mas é totalmente mentira ☺ A compostagem é uma das formas mais fáceis de reduzires a tua pegada de carbono e ajudares a minimizar o impacto dos biorresíduos em aterro. E podes fazê-lo numa casa ou num apartamento, com ou sem jardim!
Se apenas 1% das pessoas que moram nas cidades começassem a compostar, teria o mesmo impacto que plantar uma floresta de quase 1,5 milhões de hectares.
Para quem não tem jardim, os métodos de compostagem Bokashi e vermicompostagem são os mais adequados. Os nossos vermicompostores são adequados mesmo para o interior. São bastante compactos e higiénicos. No caso da Bokashi, a 2ª etapa do processo envolve a mistura dos resíduos fermentados com a terra. Aqui precisarás de uma caixa ou vaso grande para fazer essa mistura. Podes fazê-lo numa varanda ou mesmo dentro de casa, se tiveres onde colocar o “recipiente” (e não cheira mal!).
Não sabes o que fazer com o composto? Vê aqui algumas alternativas.
8. Alimentos cítricos não podem ir para a compostagem
Este é outro mito comum e por isso decidimos pô-lo aqui em destaque, embora já tenhamos esclarecido esta questão no ponto 6. Os alimentos cítricos podem ir livremente para a compostagem Bokashi e para a termofílica. A única em que devemos ser mais precavidos, é a vermicompostagem. Como dissemos anteriormente, as minhocas não adoram laranjas, abacaxi, limão e outros citrinos e, portanto, se não as queres em fuga pela casa toda, aconselhamos-te a não arriscares (principalmente se fores novata nisto!) 😛 Mas, mais uma vez, se for numa quantidade muito reduzida, nada como testar!
9. Compostar emite gases de efeito estufa prejudiciais ao ambiente
Sim, a compostagem emite gases de efeito estufa (GEE), mas a quantidade é tão mínima que os benefícios do processo e do produto final (composto) mais do que compensam essas emissões. Além disso, as boas práticas de compostagem, como por exemplo cumprir a proporção de resíduos secos e húmidos (ou seja, o rácio carbono:nitrogénio) e o correto arejamento da pilha (no caso da compostagem termofílica), permitem reduzir substancialmente essas emissões.
A compostagem por si só já resulta numa diminuição de resíduos orgânicos a irem parar aos aterros, o que significa logo uma redução da emissão de metano correspondente a esses resíduos.
Para além disso, a utilização de composto proporciona inúmeros benefícios de GEE, tanto diretamente através do sequestro de carbono como indiretamente através da melhoria da saúde do solo, a redução da sua erosão, o aumento da infiltração e retenção de água, e a redução da utilização de fertilizantes químicos, herbicidas e fungicidas (que emitem gases durante a sua produção, transporte e utilização).
10. A compostagem gera um lixiviado tóxico
Quando falamos em compostagem sempre vem a dúvida sobre o líquido produzido, que é o biofertilizante, muitas vezes confundido com o chorume ou lixiviado. A definição pode parecer semelhante, mas na verdade são bem distintas. O lixiviado é um líquido altamente tóxico que normalmente escorre nos aterros sanitários. Diga-se de passagem que o que provoca este líquido não são apenas resíduos orgânicos. São um misto de alimentos de todo o tipo, matérias inorgânicas (incluindo metais pesados), animais em decomposição, beatas de cigarro, fraldas descartáveis, cotonetes e por aí fora! O líquido produzido nestes locais contamina seriamente a água e o solo.
Já o biofertilizante originário da compostagem é gerado a partir de uma seleção cuidada de resíduos orgânicos. É, na verdade, altamente nutritivo para o solo e plantas. Mas atenção: tens sempre de diluir este líquido em água na proporção 1:100, no caso do chá Bokashi, e 1:10, no caso do biofertilizante líquido que sai do vermicompostor.
E pronto, é isto! Como viste, a compostagem é uma forma mesmo simples de ajudares o planeta. Esperamos que termos desmistificado estes mitos tão comuns te ajude a dar o próximo passo em direção à compostagem!